Ela costumava contar os dias do calendário. Dias para seu aniversário, dias para que isso acabe, aquilo comece, dias para os compromissos sociais que ela tanto odiava, mas que faziam parte de uma coisa chamada convivência. Convivência implica sair. Sair implica encontrar toda e qualquer coisa. E essa a ideia nao animava. Até porque novidades não a interessam tanto. A mesmice é uma de suas características. Nesse ponto. E só nesse. Mesmo porque suas alterações frequentes de humor também são a sua marca. Bipolaridade. Mas continuava contando os dias.
De 31 de dezembro a 31 de dezembro. Um ano. Um dia de cada vez. Um minuto. Um segundo. Nada mudava. Tudo mudava.
E ela observava o movimento das estações que entravam e saiam. Primavera, verão, outono, inverno. Todas com a mesma cara. Deus, por que nesse país nem as estações se diferem? Vai ver é porque as pessoas que a cercam são tão diferentes que algo tem que ser sempre igual.
Contou os dias. Contou e chegou de novo ao 31. Sempre empacava nesse numerozinho que sequer completava uma soma decente com seus algarismos. Até que percebeu o que esse númerozinho representava. Uma passagem, uma ruptura. Últimos minutos do ano, últimos tique taques de melancolia.
"Entre o fim do mundo e o fim do mês. Entre a verdade e o rock inglês. Entre os outros e vocês. Eu me sinto um estrangeiro. Passageiro de algum trem. Que não passa por aqui, que não passa de ilusão [...] Entra ano e sai ano, sempre os mesmos planos. Entre a minha boca e a tua, há tanto tempo, há tantos planos. Mas eu nunca sei pra onde vamos..."
Nenhum comentário:
Postar um comentário